quarta-feira, 9 de novembro de 2016

CASA VILLAR



A Casa Vilar em Fortaleza nasceu por iniciativa do comerciante João da Silva Villar, aos 15 de agosto de 1854. Devido sua extensão, ocupava todo o quarteirão da Rua da Palma (Major Facundo) até a Rua Formosa, (Barão do Rio Branco).  Antes de ser Casa Vilar era a residência do Major João Facundo de Castro Menezes, que sendo aracatiense aqui chegou em 1818, onde fez carreira militar e política. Era o Vice-presidente da província na chapa do Brigadeiro José Joaquim Coelho, quando em 1841 foi assassinado na calçada de sua residência à tiros com arma de fogo, execução esta por pistoleiros de encomenda. A mansão passou tempos desocupada.

Na Casa Villar se encontrava tudo o que se precisasse em matéria de ferragens, peças de bondes, e até mesmo posteriormente peças de locomotivas da Estrada de Ferro de Baturité, que vinham da Inglaterra e Estados Unidos. Era bastante intensa as encomendas que chegavam no Poço das Dragas, importadas para esse comércio que ficou de 1854 até 1959.




terça-feira, 8 de novembro de 2016

ORDENAMENTOS URBANOS E A SAUDADE




A cidade de Fortaleza surge em meio a percalços, quando arruadores, agentes municipais eram incumbidos do cumprimento fazendo realidade o Plano Diretor deixado por Antônio José Silva Paulet, conforme registros da Administração do Senador Alencar (1834-1837).
A quem a cidade deve imensamente, estava atribuída também à fiscalização do Presidente da Câmara, o Boticário Antônio Rodrigues Ferreira. O mesmo colocava a Filantropia em primeiro e, política em segundo. Morando em um casarão quando em Fortaleza chegou, sua casa que era de três portas, não dava para atender a demanda de pessoas enfermas, e foi com esses méritos que o mesmo já havia caído na graça do povo.
A Fortalezinha crescia e se urbanizava com hercúleo esforço. A Capital da Província praticamente ficou plana, apesar de ser erguida sobre morros. A Rua da Amélia (Senador Pompeu) das areias na Praia Formosa vai à tangente até as primeiras serras na hoje Região Metropolitana.
Nós fortalezenses tivemos a felicidade de ter edificações, mesmo passada por modificações as mais diversas. Tomou a feição dos arquitetos e da edilidade logo em suas primeiras casas quando foram feitas. No sentido de acomodação sempre obedeceu uma estética, devido a traçados dos arruadores primitivos.
Do chamado coração da cidade (Praça do Ferreira), observam-se as quadras de ruas que foram elaboradas por Francisco de Paula e Adolfo Herbster, e as pessoas nos dias de hoje passam despercebidas pelo Centro fazendo compras, com cuidado nas bolsas e objetos manuais e/ou então reclamando da notória promiscuidade, principalmente da Praça José de Alencar, cujo patrono vive sentado por se tratar de um logradouro que não tem sossego.
Já é tempo da Gestão Municipal de Fortaleza, juntamente com o Estado tomarem providências quanto ao rejuvenescimento desses locais, senão o Centro vai morrer.
Aí minha mente volta para minha VILA SÃO JOSÉ, em que alcancei muitas quadras ajardinadas que o Coronel Philomeno, talvez em suas andanças pelo Passeio Público, resolveu dar como lazer duas pracinhas dentro da própria Vila aos seus inquilinos. Nós a chamávamos de Avenidinhas, em numero de duas.
O matagal ainda existia noutras quadras não divididas, e tinha o Campo de Baturité para partidas de futebol de subúrbios. (Ainda assisti partidas entre Usina São José X Usina Ceará, Messejana X José de Alencar dentre outros). Tivemos um lado de infância selvagem, pois, até nossa comida era feita no local, tendo como combustível cascas de castanhas que levávamos para os matos, oriundas da lixeira da Caju do Brasil -  Cajubraz, que subtraiu nosso espaço em 1966.
Restaram as quadras do Bar do Seu Telles com vários pés de Jurubeba, cujas raízes fazíamos lambedor para não gripar. Olhando para o Oeste e na diagonal uma estrada para pedestre que nos conduzia a Casa Machado e a mercearia do Seu Abelardo, point da bebida Blimp, Crusch e Grapette. Depois meu pai me dava umas porradas. Era fiado na conta dele.
Hoje, chego à Vila e a impressão é que estou noutro local nunca visto. Casas diferentes, as ruas estreitaram e as quadra todas ocupadas, sem nada para apreciar.
A infância passa rápido, a mocidade é transitória. Agora é se preparar para a velhice, afinal quando ela chega é permanente. Todos querem envelhecer, mas ninguém quer ficar velho.

Cada coisa pertence ao seu tempo, só restando evocar as ultimas palavra de José de Alencar no romance Iracema: “Tudo passa sobre a terra”.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

PAREDES SÓ ESCUTAM NÃO FALAM

HISTÓRIA DA RÁDIO ASSUNÇÃO CEARENSE


A Radio Assunção Cearense tem sua embrionagem um tanto remota, e com inspiração estrangeira. Em 1947, na Colômbia um Sacerdote que havia sido nomeado vigário na cidade de Sutatenza, assistia 800 almas em sua paróquia. Mas, ele tinha algo que diferenciava dos demais. Gostava de rádio e era radioamador naquele país montanhoso. Refiro-me ao Padre Jose Salcedo, que enfrentava dificuldade em contactar com suas ovelhas.
A coisa foi revolucionária, afinal montou uma pequena estação transmissora, pois o mesmo era habilidoso na instalação e expansão de rádios receptores. Com a tenacidade que lhe era própria, não era estático, e com verdadeiro dinamismo percebeu que a população local na década de 40 era iletrada. Foi a alavancada que daria grande crescimento ao seu ministério sacerdotal. Após a metade da segunda década desse projeto radiofônico eclesiástico, congregou muita gente pertencente a uma população dispersa pelas encostas dos Andes Colombianos, e a ação social tornou-se popular. Tamanha fora a repercussão que a programação diária captou discípulos na Venezuela e equador.
Essa idéia inspiradora mobilizou a Arquidiocese em Fortaleza, e o Padre Arimatéia Diniz em 1954 deu os primeiros passos, e quando tudo se encaminhava para o concreto, em 1958 a direção da Igreja católica no Ceará desviou toda a atenção e, os recursos alocados foram destinados para o flagelo da grande seca. (Foi neste ano que o autor destas linhas veio ao mundo).
Essa estação foi um presente de uma comunidade católica alemã, ao Dom Antonio de Almeida Lustosa, então Arcebispo de Fortaleza, pela passagem de seu jubileu de ouro no sacerdócio. O nome oficial da rádio é Radio Nossa Senhora da Assunção, porém devido à programação e, para facilitar as chamadas em vinhetas, tomou a forma contracta de Radio Assunção. Como emissora integrante da Rede Nacional de Educação de Base foi ao ar oficialmente aos 11 de fevereiro de 1962. O estúdio foi localizado na Rua Visconde Saboya nº. 280, tendo como Superintendente o Padre Landim e como Diretor Comercial o também Pe. José Mirton Lavor. A estação transmissora na Rua Joaquim Manuel Macedo, no bairro Henrique Jorge que, na época era chamado de Casa Popular, e nas adjacências da antena de 90 metros, um matagal. O professor Everardo Silveira foi o locutor da iniciação.
A Arquidiocese de Fortaleza contou com mais um aliado para a imprensa, haja vista ser proprietária do Jornal O Nordeste, cuja circulação fora erradicada em 1967, já na gestão de Dom José Delgado. A emissora de equipamento importado tinha antena direcional, cujo benefício técnico era o não desperdício de rádio - freqüência para o mar. Trabalhando com ondas médias e tropicais (ondas intermediárias) isso permitia uma boa penetração no interior cearense e outros Estados do nordeste.
Com o advento da revolução de 1964, as coisas não ficaram bem para a imprensa. José Milton firmou contrato com a Rádio dragão do mar e a Direção Comercial foi para as mãos de Geraldo Fontenele. A Rádio Assunção tomou um novo formato com o ingresso de Fontenele, que com apenas 30 anos de idade já tinha um currículo denotando experiência, já havendo sido produtor de programas, animador de auditórios, radioator, redator de noticias, narrador e Diretor de Broadcasting da Rádio Difusora de Teresina (PI) e com passagem pela Rádio Poti de Natal (RN).
Sob pressão de forças revolucionárias, o Governo do estado cortou verbas de incentivos e, a Assunção tinha que se manter por ela mesma. Nesse período muitos empresários em outros Estados, perderam a concessão de suas emissoras que, são renovadas a cada dez anos. Foi graças à habilidade de Fontenele, que havia acumulado a direção de Jornalismo e Comercial que, a Assunção cearense em 1972 renovou concessão, tendo em vista não permitir ao microfone, a participação de padres expressarem suas idéias por serem comunistas.

Fachada lateral do Estúdio na Av. Rui Barbosa.

A emissora funcionava 24 horas, e há zero hora começava um programa patrocinado por uma companhia aérea ainda existente, e que levava o seu nome como “a dona da Noite”, com uma belíssima seleção musical indo até as 5 da matina. Com o clarear do dia vinha “Alvorada Cabocla”, com violeiros e cantadores, um estilo ainda muito aceitado no sertão, na periferia de Fortaleza e, no coração de todos aqueles que ainda querem preservar a cultura nordestina.
Radialistas que passaram pela Assunção em seu primeiro biênio: Hermano Justa, Narcélio Sobreira Limaverde, Ivonete Maia, Ribamar Matos, Edvar de Souza, Nazareno Albuquerque, Ivan Lima, Luiz Cavalcante, Tarcisio Holanda, Oliveira Ramos, Mauricio Carvalho, Marciano Lopes, F. Capibaribe, Airton Monte, Silvio Leite, Júlio Sales, Mattos Dourado, . 
A equipe esportiva foi incrementada com a contratação de Gomes Farias que permaneceu na rádio de 1964 a 1967, quando retornou para a hoje saudosa Dragão do Mar.
A televisão na época era somente a TV Ceará canal 2, o que permitia a existência do rádio-teatro, que tinha no elenco Oliveira Filho, J. Oliveira, Dóris... Locutores Mattos Dourado, José Costa, Oséas Cruz, Peter Soares, Bonifácio de Almeida.... 
A Superintendência da Emissora até 1966 ficou a cargo do Padre Landim, quando foi nomeado o Padre Gerardo Campos, que muito lutou para manter a Assunção num patamar estável. Eram seus companheiros de equipe sacerdotal: Padres Gotardo Lemos e Mirton Bezerra de Lavor. Foram eles os responsáveis pela irradiação dos programas religiosos: “Oração por um dia Feliz”; “A Casa é de Todos”; “Movimento de Educação de Base – Escolas Radiofônicas”; “Missa do Pastor” e “Palavra do Pastor”.
Em 1969, o veterano José Cabral de Araújo recebeu e aceitou o convite de Dom José Medeiros Delgado para assumir a Superintendência da Assunção, em substituição ao Padre Gerardo Campos. Com o aval do Arcebispado, Cabral de Araujo apesar de paraplégico, tinha muita lucidez em suas decisões Houve assinatura e rescisão de contratos. Implantou em seis meses um novo modelo administrativo: o Arrendamento.
O primeiro arrendamento foi no setor esportivo com a volta da equipe de Gomes Farias, e a posterior contratação de Paulino Rocha. A partir de então a Assunção de quarta colocada passou a primeira, o que atraiu muitos anunciantes da Capital e do Interior.
1973 foi um ano de doçura para a Assunção quando pelo Ibope, confirmou primeiro lugar, porém a rádio Verdes Mares ofereceu a equipe esportiva uma proposta irrecusável, e assim se despediram da Assunção: Gomes Farias, Paulino Rocha, Bonifácio de Almeida, Souza Filho, Peter Soares, Moraes Filho, Daniel Campelo e de lambuja José Maria Sales o operador de áudio.
A emissora teve que buscar alternativas, e fora transformada em uma freqüência musical, enfatizando programas noticiosos, e voltar sua programação para os bairros, com sua unidade móvel de freqüência modulada, com locução de José Santana e o “Seu Repórter em Ação”.
Aos 4 de agosto de 1973, assumia a Igreja em Fortaleza, Dom Aluísio Lorscheider, com recepção transmitida diretamente do aeroporto Pinto Martins, pelo recém contratado José Lisboa, vindo de uma longa caminhada através da Rádio Iracema, e assim nasceria  a “Discoteca do Lisboa”. 
Em outubro do mesmo 1973, Cabral de Araujo se desvincula da emissora por problema de saúde, e definitivamente abandona o rádio. Geraldo Fontenelle assume a superintendência. Fontenelle em suas andanças deu uma passada na Empresa Cearense de Turismo – Emcetur, quando ouviu uma linda voz de uma mocinha que fazia os anúncios para permissionários e turistas, no local da antiga cadeia pública, no entorno da Praça da Estação. Tratava-se de Maria do Socorro Marques Viana, que de Iguatu havia chegado a Fortaleza em 1966. A mesma tinha um sonho, que era trabalhar em rádio, mas mesmo batendo nas portas não conseguia.
Geraldo Fontenelle a conduziu para os microfones da Assunção Cearense que ainda ficava na rua Visconde de Saboya, e assim começou a trabalhar no horário de 20 às 22 hs. A jovem Trabalhou por dois anos, indo para a Ceará Rádio Clube, e em seguida para a Dragão do Mar, quando em conversa com o diretor artístico da Dragão, José Elias vindo da Rádio Globo do Rio, sugestionou que Maria do Socorro deveria ser Samantha. Daí surgiu Samantha Marques.
Em 1976, Dom Aluisio Lorscheider foi eleito e proclamado Cardeal da Igreja Católica. Foram importantes solenidades e dias alternados: dia 24 e 29 de maio na sala de solenidades do Papa Paulo VI na Basílica de São Pedro. Geraldo Fontenele viajou para a Itália e durante a permanência de Dom Aluísio em Roma, diariamente as 12 e 18 horas havia transmissões. Com equipe própria, essas foram consideradas as primeiras transmissões internacionais de rádio no Brasil.
Por a emissora pertencer à igreja católica, ela teve por obrigação montar uma central de transmissão em seus estúdios (Rua Visconde de Sabóia), e com sua unidade móvel de FM, fazer toda a cobertura da visita do Papa João Paulo II à Fortaleza em Julho de 1980.
Em outubro de 1981, Dom Aluísio anunciou a venda da Rádio Assunção Cearense. O clero cearense não foi consultado, apenas o Conselho Arquidiocesano e membros da CNBB. Com a participação do Monsenhor André Camurça nas negociações, a rádio fora vendida em dezembro de 1981. Em súmula, a igreja católica ficou sem o Jornal O Nordeste, o Palácio São José (Do Bispo) e o Banco Popular.
O radialista Moésio Loyola, que ainda atua nos microfones com programas esportivos tornou-se proprietário da Emissora, mas por tradição deixou espaço para a programação religiosa.
Sei que vou pecar por omissão, mas quero deixar registrados alguns programas que marcaram época: O Esportivo com Paulino Rocha; Programa Oseias Cruz; Discoteca do Lisboa, com José Lisboa; Forrozão da Assunção com Carneiro Portela; Política com Fernando Maia; Recordação Saudade, E Os Anos Carregaram e Parada dos Maiorais com Wilson Machado. Nas tardes de sábado tinha um programa exclusivo de nostalgia e com musicas do passado não distante.
Sempre na freqüência de 620 kHz, Rádio Assunção Cearense já esteve com o estúdio instalado na Rua Irauçuba e hoje na esquina da Rua Bárbara de Alencar com Avenida Rui Barbosa na Aldeota. Conservando programação esportiva a emissora de freqüência mais baixa de Fortaleza, no ano 2000 arrendou seus horários à Comunidade Católica Shalom, contrato este que perduraria até 10 de maio de 2006. A mesma, sem programação definida até 10 de julho do mesmo 2006 tornou se afiliada da Rádio Globo do Rio de Janeiro até 15 de julho de 2012. A partir do dia 16 numa segunda feira, voltou novamente como Radio Assunção Cearense. A programação novamente enriqueceu a terra.
E o prédio da Visconde de Saboya entregue as intempéries? É passado, passou...


domingo, 30 de outubro de 2016

O VERDADEIRO BAR AVIÃO, PARANGABA E A ENTRADA DA SERRINHA


Verdadeira fachada do Bar Avião.



Inaugurado em 1941 por, Antônio Paula Lemos com casa redonda, essa é a verdadeira fachada do Bar Avião. A inspiração pelo nome fora dada ao seu idealizador, que era um apaixonado por aviões. Era que, o antigo Cocorote (lagoa da Palha que gerou a corruptela Opaia), tinha um campo de aviação, que se transformaria em 1952 no antigo aeroporto Pinto Martins. No local do desaparecido Jóquei Clube, hoje hospital da mulher, sentido Oeste do Bar na Avenida João Pessoa, fora construída uma base militar Norte Americana, no período da Segunda Grande guerra. Eu fui um dos que conheceram a deteriorada pavimentação, que era a pista das aeronaves estrangeiras. (Estação da Cagece). Isso influenciou o nome ao Bar. No bar em baixo existia uma bomba de gasolina com estacionamento. Em cima um terraço. A linha férrea da Estrada de Ferro de Baturité passando ao lado e, tinha uma ruela que depois seria alargada.
 O Cotonifício Leite Barbosa S/A, aos 16 de junho também de 1941 comprou um terreno da família do Cel. Zacarias Gondim, onde fora construída a Fabrica Santa Cecília, porém, a indústria só funcionaria em 1944. (Unitextil). Assim surgiram as ruas Prof. Theodorico, 15 de Novembro, Dom Carloto Távora e por aí se ia para a Serrinha, que devido à ligação com distrito de Messejana, o bairro ficou descaracterizado. A via que era a Estrada da Boa Vista, passou a se chamar Paranjana (Parangaba-Messejana), depois Dedé Brasil e hoje Silas Monguba. O maior referencial do Bairro da serrinha, por coincidência era um concorrente do bar avião; era o Bar do Raimundão, com seu tradicional forró aos sábados. Ficava na esquina com a Rua Bruno Valente. A lagoa da Rosinha e o Serrote que inspirou o nome SERRINHA perderam nomenclatura, afinal, o novo aeroporto nivelou a área que era propriedade do Ministério da Aeronáutica. Quem trafega pela Avenida Carlos Jereissati percebe a diferenciação pela topografia. Mas isso é outra história...
O Bar Avião apesar de ser lendário, mutilaram-no entregando-lhe anexo com plataforma e colunas fugindo ao original. Com o Metrô de Fortaleza, seu viaduto tirou a estética do entorno de modo à edificação se monstregar. Estão matando a Parangaba. Volto ainda um dia para falar sobre a estação ferroviária que, também sofreu ameaça, e sobre a abandonada Casa de Intendência. Bem, borracharia e promiscuidade jamais. Tomara que uma boa ornamentação devolva ao local, um aconchego, mas o prediozinho aeronauta, não terá mais sua originalidade. Servirá apenas como ponto referencial. Destruíram um dos ícones de Fortaleza que um dia, sabe Deus, será bela. A índia Iracema de José de Alencar, não teria mais coragem de tomar banho na bucólica e nostálgica lagoa de Porangaba. As famílias Ana Lemos, Monte Negro e os Pedra que o digam.



JOSÉ DE ALENCAR UMA PRAÇA QUE NÃO TEM SOSSEGO



              
Excelente Terminal de Ônibus.



Antes de ser praça, no local que seria um dos logradouros mais movimentados da cidade era apenas um areal, e a urbanização teve sua gênese a partir do lançamento da pedra fundamental de uma igreja, que ocorrera aos 2 de fevereiro de 1850, cujo nome fora Nossa Senhora  do Patrocínio graças a um voto devocional do alferes Luis de França Carvalho. A igreja começou as celebrações em 1855.
Um ano após o funcionamento da igreja, surge em Fortaleza uma planta desenhada pelo padre Manoel Rego Medeiros e, já nos mostra o campo com a igreja, mas sem nenhuma edificação de destaque. Com a movimentação, foi o espaço ganhando vida e conseguintemente fora se urbanizando. Nessas condições é que, fora levada à Intendência uma proposta do vereador Coelho da Fonseca (hoje nome de Rua no Bairro Carlito Pamplona), e a Praça do Patrocínio como era chamada, em 1870 denominou-se “Praça Marquês do Herval”, como uma homenagem a Manuel Luis Osório, patrono da Cavalaria do Exército Brasileiro.


Intendente Guilherme Rocha

Em 1903 era intendente de Fortaleza Guilherme Rocha que, reformou a Praça e colocou um coreto aformoseando-a com o Jardim Nogueira Acioly, mas que em 1912 foi mudado para Jardim Franco Rabelo. Depois, o coreto foi retirado e montado na Ponte metálica e lá se acabou. Começava assim as turbulências da Praça em epígrafe.
Existem vários documentários sobre praças de nossa cidade. Praça do Ferreira, Passeio Público. Imagens de época em filmes nos mostram as praças dos Leões, da Bandeira como, popularmente são conhecidas. Sobre a Praça  José de Alencar, nada.
A atual Praça que estamos observando, é situada entre as ruas: Guilherme Rocha (antiga Rua da Municipalidade); Liberato Barroso (que já foi Rua das Trincheiras); General Sampaio (Da Cadeia) e a 24 de Maio (Rua da Lagoinha), tudo isso documentado pela planta do padre Medeiros.
Observemos: no canto Nordeste era a sede da Fênix Caixeiral (1905), que saiu para o canto Noroeste (1915), tomando o terreno onde estavam as ruínas da casa de Nogueira Acioly, incendiada em 1912. (Diz-se que entre os pertences do comendador estavam os projetos, plantas e as fotos da construção e inauguração do Theatro José de Alencar. Não sei se procede tal informação, mas em lugar nenhum encontramos tais registros). Quem disse que o segundo prédio da Fênix Caixeiral ainda está lá?

Chegada dos Carros de Aluguel para o Posto Mazine. 1943.

O quartel da Polícia que era nesse logradouro e que na época se denominava Batalhão de segurança (depois Guarda Cívica de Fortaleza, com apenas 3 oficiais e 120 policiais), permaneceu no local de 1893 até 1908. Dois anos depois em 1910 ao lado da corporação já desativada, foi inaugurado o Theatro José de Alencar que puxaria a Praça para esse nome. A Escola Normal D. Pedro II, que após desativação acolhera as Faculdades de Ciências de Saúde, hoje é a Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.
A Biblioteca Pública funcionou na casa que outrora foi do Coronel Francisco Manuel Alves mas, que foi derrubada no canto Sudoeste e em 1952, o industrial Pedro Philomeno construiu um residencial e o Lord Hotel , que mesmo se deteriorando, parece que vai sobreviver. No canto Sudeste tinha um Posto de Saúde que havia sido construído no local do Batalhão de policia e hoje é o jardim do Theatro J. de Alencar. Quanta tribulação!
Em 1954, numa apoteótica festa em 9 de outubro era entregue ao público o novo prédio da Rádio Iracema de Fortaleza, batizado de Edifício Guarany, que lá permaneceu até 1973, quando a emissora se mudou e o “Monstrengo” desapareceu. No mesmo quarteirão fora montado o Shopping do Camelô, que por ocupar os camuflados cabarés do Centro, herdou a nomenclatura de uma ruela cheia de lâmpadas vermelhas chamado de Beco da Poeira.


Prédio do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários - IAPB
Em Construção. 1961.

Primeira Fachada da Fênix em 1906.Esquina da Rua General Sampaio.
Veja o Local em que o Prédio da Fênix Funcionou na Foto Acima.


Segundo Prédio da Fênix Caixeiral. Rua 24 de Maio.


O posto de gasolina sumiu. As lojas e os cafés estão desaparecendo. O terminal de ônibus que funcionou recebendo os coletivos da Praça do Ferreira, lá ficou até abril de 1988. Até o Instituto – IAPB, fora entregue ao Município, e que afluência de pacientes, com as redundantes reclamações.
Reformas e reformas, mas vai ficando a igreja, e a estátua do patrono da Praça. O monumento fora idealizado pelo jornalista Gilberto Câmara, esculpido pelo paulista Humberto Cozzo, e financiado pelo cônsul Francesco da Itália. Pelo menos essa equipe foi feliz, colocando a estátua do grande escritor José de Alencar sentado, pois a memória do homenageado ainda teve de ficar de 1 de maio de 1929 até 1938, para a praça tomar seu nome.
Um logradouro sem rosto e de tanto futricarem tem-se mesmo que assistir sentado, para não desmaiar! E agora veio o Metrô que tirou o Beco da Poeira, e ainda está privativo à Onisciência de Deus o que ainda vem. Que falta de sossego.
Será que nossa geração não vai alcançar uma praça calma, bonita e dela se usufruir?
Fortaleza Bela, revitalização do Centro, na minha despretensiosa análise são retóricas, afinal, está aí a história para nos dizer...



  

MERCADO PÚBLICO E RECORDAÇÕES



Mercado de Ferro em 1911.

É impossível desassociar o movimento de mercado ou feiras livre do povão, afinal tem de tudo, desde carnes vermelhas, peixes, aves, verduras, cereais, frutas, animais vivos, ferramentas, artesanatos e, até mesmo utensílios usados para o lar e oficinas. Na feira, em “harmonia” com os cantadores do cordel, o vendedor ou camelô se libera irreverentemente oferecendo suas mercadorias aos que estão defronte a barraca e também grita em tom médio chamando os fregueses que passam distante.  O negócio é vender.
O primeiro mercado livre de que há registro no centro de Fortaleza, localizava-se na antiga Travessa das Hortas (atual Senador Alencar) no quarteirão onde ergueram um sobrado em que morou o Comendador Luiz Ribeiro da Cunha, ao qual passando por reformas o empresário Geminiano Maia (Barão de Camocim) inauguraria o Palácio Guarany em 1908, e que hoje infelizmente, está com sua fachada mutilada.
O segundo, com planta do Engenheiro português Silva Paulet teve novo prédio instalado onde por muito tempo funcionaria o mercado Central na rua Cond'eu. Com data de 12 de setembro de 1818, o mesmo funcionou por quase oitenta anos, e quando o local fora desativado, recebeu o batismo de “Cozinha do Povo”, talvez pelo popular preço nas refeições.
Pois bem, a Fortaleza Provincial reclamava por estética e ordenamento urbano exigindo o profícuo trabalho de engenheiros e arruadores. Aí foi inaugurado o Mercado de Ferro, mas já na gestão do Intendente (Prefeito) Guilherme Rocha e do Presidente (Governador) Nogueira Accioly, cuja apoteose ocorrera aos 18 de abril de 1897. A edificação metálica fora montada na Praça Carolina e com frente para a rua Floriano Peixoto, em terreno que posteriormente foi ocupado pelo Palácio do Comércio. Toda a estrutura metálica importada da França foi adquirida com dinheiro da venda de bilhetes de crédito, chamados Borós. A coisa foi tão espantosa e contagiante para época, que ao lado desse mercado tinha uma garapeira chamada “Bem-Bem” e, pois não é que, o camarada foi bater em Paris e voltou arranhando o francês!
Em 1937, um novo tempo para Loura do Sol e Branca dos Luares exigiu a saída do mercado do local. O mesmo sendo desmontado foi dividido em duas partes: uma foi para a Aldeota e na Praça Visconde Pelotas, ficou conhecido como Mercado dos Piões; a outra foi trasladada para a Praça Paula Pessoa e denominou-se São Sebastião.
No ano mais badalado do regime militar (68) a estrutura do São Sebastião foi transferida para o bairro de Aerolândia, recebendo o Mercado da praça Paula Pessoa, galpões de alvenaria com coberta de amianto. Com essa inauguração, a praça desapareceu pela ocupação desordenada de barracas. Meu pai, fiscal Valdemar de Lima à época a serviço da Prefeitura de Fortaleza, constantemente levava relatório de irregularidades, mas parece que a resistência do povão neutralizava as medidas disciplinares das autoridades, o que evidentemente dava mais conforto ao meu genitor trafegar entre os feirantes. Até mesmo um ultimo canteiro de forma triangular pela rua Meton de Alencar esquina com Padre Mororó, fora ocupado por metalúrgicos transformando-se no popular Ferro Velho, sendo separado da feira pela pista inicio da Avenida Bezerra de Menezes, onde existia dois postos de gasolina com edificação subterrânea com os nomes de “sobral” e “Iguatú”.
Enquanto fazíamos nossa feira semanal, na Avenida Padre Ibiapina circulavam todos os ônibus que penetravam na movimentada Avenida Bezerra de Menezes. As linhas Parque Araxá, Campo do Pio, Granja Paraíso, Vila dos Industriários, Sitio Ipanema, são algumas que desapareceram, assim como os ônibus elétricos do bairro São Gerardo. Outros hoje são integrados ao terminal de Antonio Bezerra.

Pedaço do Mercado de Ferro que se Transformou no São Sebastião.

Mercado São Sebastião Inaugurado em 1965.
A Antiga armação de Ferro foi para a Aerolândia.



A construção do novo mercado São Sebastião resolveu os problemas de organização e higiene no local, mas acabou com a praça que ornamentava o inicio da saída Oeste de Fortaleza. Tornou um horror a rua Clarindo de Queiroz naquele pedaço, e bloqueou a tradicional Padre Mororó. É só perguntar aos moradores tradicionais e aos sócios do Serviço Social do Comércio - Sesc...  

MERCADO PÚBLICO E RECORDAÇÕES



Mercado de Ferro em 1911.

É impossível desassociar o movimento de mercado ou feiras livre do povão, afinal tem de tudo, desde carnes vermelhas, peixes, aves, verduras, cereais, frutas, animais vivos, ferramentas, artesanatos e, até mesmo utensílios usados para o lar e oficinas. Na feira, em “harmonia” com os cantadores do cordel, o vendedor ou camelô se libera irreverentemente oferecendo suas mercadorias aos que estão defronte a barraca e também grita em tom médio chamando os fregueses que passam distante.  O negócio é vender.
O primeiro mercado livre de que há registro no centro de Fortaleza, localizava-se na antiga Travessa das Hortas (atual Senador Alencar) no quarteirão onde ergueram um sobrado em que morou o Comendador Luiz Ribeiro da Cunha, ao qual passando por reformas o empresário Geminiano Maia (Barão de Camocim) inauguraria o Palácio Guarany em 1908, e que hoje infelizmente, está com sua fachada mutilada.
O segundo, com planta do Engenheiro português Silva Paulet teve novo prédio instalado onde por muito tempo funcionaria o mercado Central na rua Cond'eu. Com data de 12 de setembro de 1818, o mesmo funcionou por quase oitenta anos, e quando o local fora desativado, recebeu o batismo de “Cozinha do Povo”, talvez pelo popular preço nas refeições.
Pois bem, a Fortaleza Provincial reclamava por estética e ordenamento urbano exigindo o profícuo trabalho de engenheiros e arruadores. Aí foi inaugurado o Mercado de Ferro, mas já na gestão do Intendente (Prefeito) Guilherme Rocha e do Presidente (Governador) Nogueira Accioly, cuja apoteose ocorrera aos 18 de abril de 1897. A edificação metálica fora montada na Praça Carolina e com frente para a rua Floriano Peixoto, em terreno que posteriormente foi ocupado pelo Palácio do Comércio. Toda a estrutura metálica importada da França foi adquirida com dinheiro da venda de bilhetes de crédito, chamados Borós. A coisa foi tão espantosa e contagiante para época, que ao lado desse mercado tinha uma garapeira chamada “Bem-Bem” e, pois não é que, o camarada foi bater em Paris e voltou arranhando o francês!
Em 1937, um novo tempo para Loura do Sol e Branca dos Luares exigiu a saída do mercado do local. O mesmo sendo desmontado foi dividido em duas partes: uma foi para a Aldeota e na Praça Visconde Pelotas, ficou conhecido como Mercado dos Piões; a outra foi trasladada para a Praça Paula Pessoa e denominou-se São Sebastião.
No ano mais badalado do regime militar (68) a estrutura do São Sebastião foi transferida para o bairro de Aerolândia, recebendo o Mercado da praça Paula Pessoa, galpões de alvenaria com coberta de amianto. Com essa inauguração, a praça desapareceu pela ocupação desordenada de barracas. Meu pai, fiscal Valdemar de Lima à época a serviço da Prefeitura de Fortaleza, constantemente levava relatório de irregularidades, mas parece que a resistência do povão neutralizava as medidas disciplinares das autoridades, o que evidentemente dava mais conforto ao meu genitor trafegar entre os feirantes. Até mesmo um ultimo canteiro de forma triangular pela rua Meton de Alencar esquina com Padre Mororó, fora ocupado por metalúrgicos transformando-se no popular Ferro Velho, sendo separado da feira pela pista inicio da Avenida Bezerra de Menezes, onde existia dois postos de gasolina com edificação subterrânea com os nomes de “sobral” e “Iguatú”.
Enquanto fazíamos nossa feira semanal, na Avenida Padre Ibiapina circulavam todos os ônibus que penetravam na movimentada Avenida Bezerra de Menezes. As linhas Parque Araxá, Campo do Pio, Granja Paraíso, Vila dos Industriários, Sitio Ipanema, são algumas que desapareceram, assim como os ônibus elétricos do bairro São Gerardo. Outros hoje são integrados ao terminal de Antonio Bezerra.

Pedaço do Mercado de Ferro que se Transformou no São Sebastião.

Mercado São Sebastião Inaugurado em 1965.
A Antiga armação de Ferro foi para a Aerolândia.



A construção do novo mercado São Sebastião resolveu os problemas de organização e higiene no local, mas acabou com a praça que ornamentava o inicio da saída Oeste de Fortaleza. Tornou um horror a rua Clarindo de Queiroz naquele pedaço, e bloqueou a tradicional Padre Mororó. É só perguntar aos moradores tradicionais e aos sócios do Serviço Social do Comércio - Sesc...  

O PALACIO DO BISPO E A IGREJA SÉ


Palácio do Bispo. Fila da Caridade.1905.

A Prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (2005-2013) foi quem assinou a ordem de serviço para a reforma do Paço Municipal, antigo Palácio do Bispo, cuja primeira grande reforma foi feita em 1913, quando Manezinho do Bispo era o porteiro. Referido prédio é patrimônio do Município desde 1973, pelo que ocorreu o tombamento. A Chefia do Executivo Municipal transferiu novamente o Paço Municipal para o Centro.
Busquemos recuar no tempo. Aos 16 de fevereiro de 1699, veio de Portugal uma Ordem Régia que determinava a construção de uma igreja, que seria a primeira Capela-Mor da Matriz de Fortaleza. Localizada com a frente para a cidade, e com Riacho Pajeú passando a alguns metros por detrás, sua construção foi iniciada somente 48 anos depois. Concluída em 1795, em 1820 foi demolida, e com festa para a cidade Fortaleza, aos 2 de abril de 1854 foi inaugurada a Igreja de São José.
Com a posse do primeiro Bispo do Ceará, Dom Luis Antonio dos Santos, a antiga Matriz aos 29 de setembro de 1861, foi transformada em Catedral. Esse templo ficou erguido até 1938, quando aos 11 de setembro foi realizada a última missa. Um ano após, foi lançada a pedra fundamental do majestoso templo, que depois de quarenta anos lá está.
Por detrás dessa igreja, no segundo quartel do século XIX, e nas margens do Pajeú, foi construído um palacete pela família do Comendador Joaquim Mendes da Cruz Guimarães, na Rua das Almas, hoje Rua São José. Adquirido pela Igreja católica, esse palacete passou a ser abrigo dos Bispos, surgindo a partir de então a nomenclatura “Palácio do Bispo”, afinal o mesmo passou a pertencer ao episcopado, quando o mesmo fora entregue aos 21 de junho de 1860, embora o bispado já tivesse sido criado, conforme a lei estadual nº. 693 de 10 de agosto de 1853.
Esse prédio funcionava, além da residência do Bispo, como uma espécie de Secretaria de Ação Social, pois, diversos registros fotográficos e relatórios ratificam que os pobres se enfileiravam em busca de ajuda.
Hoje são várias as modificações no local, com pavimentação asfáltica, trânsito maluco; a rua da escadinha (Baturité) só não desapareceu por conta da resistência do saudoso pesquisador Christiano Câmara que era um geógrafo sentimental. O riacho Pajeú, que outrora era uma veia significativa, está atualmente como um vaso capilar e poluído.
Eu pensei que essa atitude da Prefeitura de Fortaleza naquele  2008, tivesse sido um prenuncio para que o poder público voltasse  a funcionar no Centro da Cidade, tal qual a histórica capital, João Pessoa.  Até pouco depois da Revolução de 1930, denominava-se Parayba do Norte, no estado da Paraíba, e nunca a sede dos Poderes Executivos, Legislativo e Judiciário e repartições correlatas saíram do Centro.  
Que história é essa de querer revitalizar o Centro somente com a volta dos moradores?



FORTALEZA E SEU TAPETE DO ASSENTAMENTO


Desenhos de Nossa Fortaleza Colonial


Planta de Manoel Francês. 1726.



Fortaleza, loura do Sol e branca dos luares é um verdadeiro arquivo topográfico que, por mais que se pesquise, sempre fica algo para ser descoberto, o que não esgota a mão de obra de até futuros pesquisadores. Ninguém na íntegra conhece a história de nossa linda, porém, inquieta Fortaleza. Toda cidade fica em seu padrão, mas a Capital alencarina nunca falta o que fazer? Que é que isso, a Praça José de Alencar, era um arborizado terminal de ônibus, e na gestão Maria Luíza, derrubaram todo quarteirão da Família Mamede, e com ele foi embora o Edifício Guarani (Rádio Iracema), permanecendo o Beco da Poeira, depois Shopping do Camelô e, já se vão trinta e cinco anos e a Praça não tem sossego! Isso é só um exemplo que tem pessoas que nasceram em 1986, e até hoje não usufruíram da praça, nem como transeunte.
Voltemos à nossa temática. Quem está em Fortaleza ver tudo plano, mas quando nos dirigimos para a Orla Marítima, aí nos deparamos com os declives, muitos acentuados como o da Santa Casa de Misericórdia, primeiro hospital de Fortaleza.
A resposta está nos escritos do inglês Henry Koster, que por aqui passou e do alto mar só viu muitos morros, e uma Vila bastante desenvolvida com cerca de 2.000 habitantes. O arruamento e ordenação urbanista tiveram inicio no quartel Militar, daí surgindo a Rua do Quartel que hoje tem o nome de General Bizerril. Esse processo começou com Luís Barba Alardo de Menezes, mas a concretização foi com Manuel Ignácio de Sampaio, auxiliado por Antonio José da Silva Paulet por volta de 1815.
Os mais antigos conservam a nomenclatura de Morros, e a ratificação é Morro de Santa Terezinha (Mucuripe); Morro Meireles (Palácio da Abolição); Marajaituba (Passeio Público); Croatá (Estação Ferroviária); Moinho (Padre Mororó); Japão (Noroeste do Pirambú).
Adentrando na cidade ao sul, ainda restam Alto da Balança na saída pela hoje BR 116 vizinho ao Bairro Aerolândia e, entre as Avenidas Bezerra de Menezes e Sargento Hermínio, topograficamente nota-se a diferença de Nível por detrás do North Shopping: é o nostálgico Monte picú, nome pouco conhecido, e eu muito andava lá, pois, tinha o meu Tio José Porfírio que, lá se estabeleceu nos anos da década de 1950. Hoje é o Bairro Presidente Kennedy.  
Quando estamos no Palácio da Abolição, e queremos ir para a praia é como se estivéssemos em queda livre. Quem está na Estação Ferroviária e/ou Igreja dos Navegantes defronte ao Hall da Escola de Aprendizes Marinheiros, contemplamos os verdes mares com 15 metros de altitude.
Nesse tapete/solo existem cortes hídricos que outrora navegáveis, hoje são capilares inexpressíveis, “Graças” a especulação imobiliária e o desordenamento promíscuo, as chamadas Áreas de Risco. Três são os que desaguam no mar: Maceió no Mucuripe; Pajeú no Centro e o Jacarecanga do mesmo nome do Bairro. Podemos citar outros rios como o Cocó, Riacho Parreão e o Aguanambí. A expressão Aguanambí Agua+Nambí vem do hibrido Português e Tupy que quer dizer “Só tem um braço”. Traduzindo um rio que só tem um curso.
Na gestão Vicente Fialho, que mesmo sendo filho de Tauá, aqui em Fortaleza por pertencer ao partido dominante, Arena, foi nomeado pelo Governador Cesar Cal’s como Prefeito da Capital. Pense leitor amigo, numa Fortaleza sem saída Sul, e foi nessa visão de mobilidade urbana que, em 1973 essa importante Avenida Chamada Aguanambí foi inaugurada, concomitantemente com o Terminal Rodoviário Eng.º João Thomé. Para quem queria ir para Messejana, numa via sem pavimentação asfáltica nos obsoletos ônibus da extinta Viação Cruzeiro, agora ver o quanto esses homens (Cesar e Fialho) tinham visão de futuro. Lamentamos a especulação ter que desviar e afunilar curso de importantes rios, mas com um pouco de educação, não é possível que Fortaleza um dia não tenha sossego!
É impossível Fortaleza voltar a ser descalça, mas por que não transformá-la numa metrópole modelo? Quase que conseguíamos no ano 2000, mas no meu entender, impensadas obras do Metrô desassossegaram moradores e transeuntes motorizados, afora transtornos no comércio.
Muito fácil: a Avenida Tristão Gonçalves poderia ter recebido pilares, o que tornava a viagem do novo trem panorâmica, as obras eram barateadas, teria ficado mais lindo. São boas as coisas modernas e estéticas, mas devemos construir para usufruir e não para posteriori. Custo hoje, Benefício só Deus Sabe?
Na Avenida Aguanambí o encontro de gerações: o Rio e a Mobilidade Urbana.

Quanto ao tapete/solo, gerações vêm e passam e por cima dele. É vencedor da idade. É imutável. Desde Vicente Pizzon (Janeiro de 1500) ao Roberto Cláudio tem que ficar como a natureza criou. 
A ENERGIA ELÉTRICA DE FORTALEZA
(Síntese Histórica)


Combustores à Gás Carbônico no Passeio Público.



Tudo o que é relacionado ao desenvolvimento, obedece a etapas e/ou estágios. Ao retornarmos ao passado, não implica em se sofrer atrasos, mas estamos resgatando merecimentos, afinal, o moderno hoje é o antigo amanhã. O moderno carro de injeção eletrônica não chegou antes daqueles, cuja partida era à manivela com carburação falha; o compacto celular em que localizamos as pessoas apenas no tempo, não podia chegar primeiro do que os aparelhos de telefonia à magneto, com sua extensão entre emissor e receptor não superior a 1000 metros; as aeronaves, os super-sônicos dar uma volta ao mundo em questão de horas, porém, Alberto Santos Dumont  penou bastante para fazer subir o 14 BIS em 1906 na França.....
Será que a iluminação e energia elétrica fora algo diferenciado? Fortaleza quando no dizer do poeta Otacílio Azevedo “Ainda Descalça”, foi saindo da escuridão a custa do sacrifício de fauna marinha, hoje na lista de extinção. As baleias desapareceram da Costa Norte brasileira, pois, a iluminação pública da Fortaleza Provinciana, tinha como combustível, o azeite de peixe, cujos estudos datam de 25 de janeiro de 1834, mas que só foram concretizados em março de 1848, quando já era Presidente da Província Cearense, o Dr. Casimiro José de Moraes Sarmento, o construtor do primeiro cemitério da cidade.
A exploração do serviço de iluminação de Fortaleza teve inicio, segundo o historiador João Nogueira, com a assinatura de um contrato com o Português Sr. Vitoriano Augusto Borges que tinha como atribuição, instalar lampiões em numero de  44. Essa luminária tinham quatro faces, sendo mais estreitas em baixo do que em cima, com fundo e tampa de metal. Eram suspensos com armações de ferro como se fosse uma forca, afixados nas esquinas e na posição que pudessem iluminar ruas e travessas. Eram limpos constantemente, e para acendê-los deveriam descer por isso eles pendiam de uma corda, que passava em duas roldanas. Tinha uma caixinha cheia de azeite de peixe com torcida de algodão. Era parecido com pequenos tachos de que trabalham os ourives para soldas à maçarico.
Foi assim que surgiu o primeiro personagem popular de Fortaleza: “Chico Lampião”. Fortaleza bonitinha ficou sendo iluminada com azeite de Peixe até 1866 quando caducado o contrato com o Sr. Vitorino.
A tecnologia quando quer avançar não respeita era. Teria que surgir melhorias, e assim veio o Gás Carbônico sob a responsabilidade da “The Ceará Gaz Company Limited”.
Com o gás carbônico, as ruas de nossa cidade tiveram melhor qualidade na iluminação. Colocadas em ziguezague as luminárias obedeciam a uma distancia de apenas 30 metros uma da outra, e com uma altura de 2,40 metros. Ficava uma chama brilhante em forma de leque queimando o bem preparado gás, salientando que, o gasômetro ficava na Rua Senador Jaguaribe, ao lado da Santa Casa de Misericórdia olhando para a Praça do Passeio Público. Daí o antigo nome dessa rua ser “Rua do Gasômetro”.  A logística sempre transpassa o que quer ficar parado. O gasômetro já não atendia a demanda.
Entra em cena na extensão de seus serviços, a firma inglesa The Ceará Tramway Light & Power Co. Ltd”, que explorava o transporte de bondes elétricos desde 1913, ganhando privilégio agora para o serviço de iluminação. A localização dos geradores da Light era na Rua Adolfo Caminha (Baixos do Passeio Público) e as suas caldeiras eram alimentadas com lenhas vindas do Horto Florestal de Canafístula (Antônio Diogo - distrito de Aracoiaba) trazidas em vagões gôndolas pertencentes a Companhia Cearense da Via Férrea de  Baturité. Em 25 de outubro de 1935, portanto, foi retirado o último lampião à gás encerrando assim, o segundo período da iluminação de Fortaleza, a era do Gás Carbônico.
Experimentalmente, em 1933 foram colocadas quatro lâmpadas elétricas de 100 Watts na Rua Formosa (Barão do Rio Branco), entre as ruas Guilherme Rocha e Senador Alencar. Assim em 1934, fora rescindido o contrato da “Ceará Gás” e o Governo do Estado do Ceará sob a interventoria de Filipe Moreira Lima, nesse mesmo ano oficialmente, inaugurou-se na praça do Ferreira a energia elétrica. Aquele 8 de dezembro foi apoteótico.
Aos 19 de maio de 1947 circulou o último bonde elétrico em Fortaleza e, apesar da sobra de demanda, a energia da Light ainda era muito precária. A “The Ceará Tramway” por força do decreto Federal nº 25.232 de 15 de julho de 1948, é transferida para a Prefeitura Municipal de Fortaleza, sendo o Prefeito Acrisio Moreira da Rocha.

Fachada do Serviluz

Turbinas do Serviluz

Vista Aérea e Panorâmica do Serviluz

Escritório do Serviluz no Centro de Fortaleza
Defronte ao Passeio Público.



Aos 20 de maio de 1954, saiu o decreto nº 803 criando o “Serviço de Luz e Força do Município de Fortaleza - SERVILUZ” quando ainda era prefeito, o radialista e advogado Paulo Cabral de Araújo. As novas instalações foram inauguradas em 8 de novembro do mesmo 54, ocupando o local onde funcionava o Escritório da extinta empresa de Bondes no Passeio Público, pela rua João Moreira. A Usina Termoelétrica fora instalada em maio de 1955 na Ponta do Mucuripe, inicio da Praia Mansa. Com modernos geradores Westinghouse, o Serviluz fora criado para resolver o problema da precária energia elétrica de Fortaleza.
As razões técnicas para a usina ficar distante do centro da cidade, segundo analistas da época, deveram-se a estratégica zona portuária com o surgimento de empreendimentos, tais como os já existentes: Shell Mex, Esso Standart do Brasil e moinhos de trigo. Além do mais, o equipamento roncava e aquecia demais e a ventilação praiana, favorecia a regulagem térmica.
O Serviluz é administrativamente transferido em 1 de maio de 1960 para a Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF (Estado da Bahia), a qual por sua vez, em 1 de abril de 1962 instala a Companhia Nordeste de Eletrificação de Fortaleza – CONEFOR que substituiu o Serviluz. Dois anos após, a rede elétrica proveniente da Usina Hidroelétrica de Paulo Afonso chegou a Fortaleza, com uma subestação em Mondubim.
 Aí com as presenças do Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, do Governador do Ceará Virgílio Távora, do Prefeito de Fortaleza Murilo Borges e várias autoridades, em 1 de fevereiro de 1965 precisamente às 18.30 h, na Praça Libertadores, bairro Otávio Bonfim, era acessa a primeira lâmpada de iluminação pública com energia elétrica da CHESF.
Em 5 de julho de 1971, o Governo César Cal's cria a Companhia de Eletricidade do Ceará – COELCE e encampa a Conefor, que após três anos em assembléia geral a extingue.
Como não era de se esperar, a história se repetiu. O comando do serviço de energia elétrica do Ceará saiu das mãos do Governo Estadual. A Coelce foi vendida, e aos 13 de maio de 1998 passou a pertencer a “Distriluz Energia Elétrica S.A.”, “Companhias Enersis S.A.”, “Chilectra S.A.”, “Endesa de España S.A.” e a “Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro – CERJ”.  

Então quem não quiser mandar mais dinheiro para fora, consuma produtos da Terra e economize energia. Seja racional.
O RIACHO PAJEÚ SOB A LUZ DO LUAR

É uma tristeza saber que o nosso riacho Pajeú está sórdido, quebrando até o encanto de quem visita o Jardim do Paço Municipal.
Ele era tão volumoso, que abastecia os chafarizes daí a Rua José Avelino outrora ser chamada de Rua do Chafariz e a Sena Madureira  Rua da Ponte, e a Pessoa Anta Rua do Mar, isso porque a cidade já impulsionava, mesmo no areal, uma mobilidade com tráfego de carroças.  O trem só chegaria em 1878 na alfândega e, o primeiro automóvel já na Ponte Metálica chegaria em 1909.
Pajeú era uma veia farta, abastecia o Forte, os três pavimentos do Passeio Público e servia com sua correnteza mesmo em pequena proporção, como lenitivo para os pacientes do Hospital da Caridade. A umidade relativa do ar era excelente, devido esse fluido maravilhoso que por ali tinha sua foz.
O Ribeiro do Pajeú como era conhecido em 1810, tinha zonas distintas; tinha conexão com a Lagoa do Garrote e nas grandes inundações, topograficamente ele era favorecido, recebendo água ao ponto de ocorrer grandes cheias inundando a Rua de Baixo (Atual Cond’eu).
Pode existir algo mais meditativo do que olhar uma correnteza de água, e mais romântico jogar uma flor? Como Foi belíssima essa cinética caudal, cortante do Morro Marajaitiba.
Foi com este espírito que o Capitão – Mor Antônio de Castro Viana resolver em 1790, a construir uma mansão em um terreno declinado o que lhe rendeu uma vivenda de dois andares, restando até no lado esquerdo, espaço para demarcar e construir seu jardim.
Com a morte do Capitão – Mor Viana, o Direito do Povo, (que era como se chamava o Senado da Câmara), comprou a propriedade aos 26 de dezembro de 1802, passando esse palacete a pertencer ao Governo.
Luís Barba Alardo de Meneses, que assumiu o Governo em 1808 foi o primeiro no Ceará a trocar sua casa, pela da Câmara. Agora, ainda não existia Ordem Régia para ser Sede Oficial do Governo e Casa do Governador, coisa que só ocorreria em 1814.
Essa propriedade de lado ia do arenoso local em que ergueram a Praça General Tibúrcio, até a Rua do Cajueiro (Pedro Borges) e de fundo da Rua do Rosário até a Rua de Baixo, como já falei Rua Cond’eu.
Palácio da Luz na Rua Sena Madureira

Palácio da Luz pela Rua do Rosário


Com a Abolição da Escravatura em março de 1884, o Palácio do Governo por decreto do Presidente Sátiro de Oliveira Dias, passou a se chamar Palácio da Luz. Por lá passaram mais de 90 Governadores, dentre Capitães – Mores, Presidentes de Província, Interventores, sendo o Governador Plácido Aderaldo Castelo o último, ficando lá até 1971. O Palácio da Abolição absorveu o Gabinete do Governador. Entenderam a historicidade? Palácio da Luz, porque ocorreu a Abolição. Essa é a correlação em nomenclaturas.
E por que o Capitão-Mor Antônio de Castro Viana construiu sua Mansão naquele pedaço? Foi igual aos Ancestrais dos Távoras! Apreciar o perfumado rio correr e o espumar do encontro das águas cristalinas se chocar com alguma pedra no percurso. E poderiam emoldurar algo mais fascinante, do que ver o reflexo da luz cor de prata nas noites de luar, com o assobiar do vento fresco?!

Fortaleza pousada sobre areia descalça e linda, refulgindo do alto sob o mago esplendor da lua cheia.”                  Gastão Justa.



Assis Lima