quarta-feira, 9 de novembro de 2016

CASA VILLAR



A Casa Vilar em Fortaleza nasceu por iniciativa do comerciante João da Silva Villar, aos 15 de agosto de 1854. Devido sua extensão, ocupava todo o quarteirão da Rua da Palma (Major Facundo) até a Rua Formosa, (Barão do Rio Branco).  Antes de ser Casa Vilar era a residência do Major João Facundo de Castro Menezes, que sendo aracatiense aqui chegou em 1818, onde fez carreira militar e política. Era o Vice-presidente da província na chapa do Brigadeiro José Joaquim Coelho, quando em 1841 foi assassinado na calçada de sua residência à tiros com arma de fogo, execução esta por pistoleiros de encomenda. A mansão passou tempos desocupada.

Na Casa Villar se encontrava tudo o que se precisasse em matéria de ferragens, peças de bondes, e até mesmo posteriormente peças de locomotivas da Estrada de Ferro de Baturité, que vinham da Inglaterra e Estados Unidos. Era bastante intensa as encomendas que chegavam no Poço das Dragas, importadas para esse comércio que ficou de 1854 até 1959.




terça-feira, 8 de novembro de 2016

ORDENAMENTOS URBANOS E A SAUDADE




A cidade de Fortaleza surge em meio a percalços, quando arruadores, agentes municipais eram incumbidos do cumprimento fazendo realidade o Plano Diretor deixado por Antônio José Silva Paulet, conforme registros da Administração do Senador Alencar (1834-1837).
A quem a cidade deve imensamente, estava atribuída também à fiscalização do Presidente da Câmara, o Boticário Antônio Rodrigues Ferreira. O mesmo colocava a Filantropia em primeiro e, política em segundo. Morando em um casarão quando em Fortaleza chegou, sua casa que era de três portas, não dava para atender a demanda de pessoas enfermas, e foi com esses méritos que o mesmo já havia caído na graça do povo.
A Fortalezinha crescia e se urbanizava com hercúleo esforço. A Capital da Província praticamente ficou plana, apesar de ser erguida sobre morros. A Rua da Amélia (Senador Pompeu) das areias na Praia Formosa vai à tangente até as primeiras serras na hoje Região Metropolitana.
Nós fortalezenses tivemos a felicidade de ter edificações, mesmo passada por modificações as mais diversas. Tomou a feição dos arquitetos e da edilidade logo em suas primeiras casas quando foram feitas. No sentido de acomodação sempre obedeceu uma estética, devido a traçados dos arruadores primitivos.
Do chamado coração da cidade (Praça do Ferreira), observam-se as quadras de ruas que foram elaboradas por Francisco de Paula e Adolfo Herbster, e as pessoas nos dias de hoje passam despercebidas pelo Centro fazendo compras, com cuidado nas bolsas e objetos manuais e/ou então reclamando da notória promiscuidade, principalmente da Praça José de Alencar, cujo patrono vive sentado por se tratar de um logradouro que não tem sossego.
Já é tempo da Gestão Municipal de Fortaleza, juntamente com o Estado tomarem providências quanto ao rejuvenescimento desses locais, senão o Centro vai morrer.
Aí minha mente volta para minha VILA SÃO JOSÉ, em que alcancei muitas quadras ajardinadas que o Coronel Philomeno, talvez em suas andanças pelo Passeio Público, resolveu dar como lazer duas pracinhas dentro da própria Vila aos seus inquilinos. Nós a chamávamos de Avenidinhas, em numero de duas.
O matagal ainda existia noutras quadras não divididas, e tinha o Campo de Baturité para partidas de futebol de subúrbios. (Ainda assisti partidas entre Usina São José X Usina Ceará, Messejana X José de Alencar dentre outros). Tivemos um lado de infância selvagem, pois, até nossa comida era feita no local, tendo como combustível cascas de castanhas que levávamos para os matos, oriundas da lixeira da Caju do Brasil -  Cajubraz, que subtraiu nosso espaço em 1966.
Restaram as quadras do Bar do Seu Telles com vários pés de Jurubeba, cujas raízes fazíamos lambedor para não gripar. Olhando para o Oeste e na diagonal uma estrada para pedestre que nos conduzia a Casa Machado e a mercearia do Seu Abelardo, point da bebida Blimp, Crusch e Grapette. Depois meu pai me dava umas porradas. Era fiado na conta dele.
Hoje, chego à Vila e a impressão é que estou noutro local nunca visto. Casas diferentes, as ruas estreitaram e as quadra todas ocupadas, sem nada para apreciar.
A infância passa rápido, a mocidade é transitória. Agora é se preparar para a velhice, afinal quando ela chega é permanente. Todos querem envelhecer, mas ninguém quer ficar velho.

Cada coisa pertence ao seu tempo, só restando evocar as ultimas palavra de José de Alencar no romance Iracema: “Tudo passa sobre a terra”.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

PAREDES SÓ ESCUTAM NÃO FALAM

HISTÓRIA DA RÁDIO ASSUNÇÃO CEARENSE


A Radio Assunção Cearense tem sua embrionagem um tanto remota, e com inspiração estrangeira. Em 1947, na Colômbia um Sacerdote que havia sido nomeado vigário na cidade de Sutatenza, assistia 800 almas em sua paróquia. Mas, ele tinha algo que diferenciava dos demais. Gostava de rádio e era radioamador naquele país montanhoso. Refiro-me ao Padre Jose Salcedo, que enfrentava dificuldade em contactar com suas ovelhas.
A coisa foi revolucionária, afinal montou uma pequena estação transmissora, pois o mesmo era habilidoso na instalação e expansão de rádios receptores. Com a tenacidade que lhe era própria, não era estático, e com verdadeiro dinamismo percebeu que a população local na década de 40 era iletrada. Foi a alavancada que daria grande crescimento ao seu ministério sacerdotal. Após a metade da segunda década desse projeto radiofônico eclesiástico, congregou muita gente pertencente a uma população dispersa pelas encostas dos Andes Colombianos, e a ação social tornou-se popular. Tamanha fora a repercussão que a programação diária captou discípulos na Venezuela e equador.
Essa idéia inspiradora mobilizou a Arquidiocese em Fortaleza, e o Padre Arimatéia Diniz em 1954 deu os primeiros passos, e quando tudo se encaminhava para o concreto, em 1958 a direção da Igreja católica no Ceará desviou toda a atenção e, os recursos alocados foram destinados para o flagelo da grande seca. (Foi neste ano que o autor destas linhas veio ao mundo).
Essa estação foi um presente de uma comunidade católica alemã, ao Dom Antonio de Almeida Lustosa, então Arcebispo de Fortaleza, pela passagem de seu jubileu de ouro no sacerdócio. O nome oficial da rádio é Radio Nossa Senhora da Assunção, porém devido à programação e, para facilitar as chamadas em vinhetas, tomou a forma contracta de Radio Assunção. Como emissora integrante da Rede Nacional de Educação de Base foi ao ar oficialmente aos 11 de fevereiro de 1962. O estúdio foi localizado na Rua Visconde Saboya nº. 280, tendo como Superintendente o Padre Landim e como Diretor Comercial o também Pe. José Mirton Lavor. A estação transmissora na Rua Joaquim Manuel Macedo, no bairro Henrique Jorge que, na época era chamado de Casa Popular, e nas adjacências da antena de 90 metros, um matagal. O professor Everardo Silveira foi o locutor da iniciação.
A Arquidiocese de Fortaleza contou com mais um aliado para a imprensa, haja vista ser proprietária do Jornal O Nordeste, cuja circulação fora erradicada em 1967, já na gestão de Dom José Delgado. A emissora de equipamento importado tinha antena direcional, cujo benefício técnico era o não desperdício de rádio - freqüência para o mar. Trabalhando com ondas médias e tropicais (ondas intermediárias) isso permitia uma boa penetração no interior cearense e outros Estados do nordeste.
Com o advento da revolução de 1964, as coisas não ficaram bem para a imprensa. José Milton firmou contrato com a Rádio dragão do mar e a Direção Comercial foi para as mãos de Geraldo Fontenele. A Rádio Assunção tomou um novo formato com o ingresso de Fontenele, que com apenas 30 anos de idade já tinha um currículo denotando experiência, já havendo sido produtor de programas, animador de auditórios, radioator, redator de noticias, narrador e Diretor de Broadcasting da Rádio Difusora de Teresina (PI) e com passagem pela Rádio Poti de Natal (RN).
Sob pressão de forças revolucionárias, o Governo do estado cortou verbas de incentivos e, a Assunção tinha que se manter por ela mesma. Nesse período muitos empresários em outros Estados, perderam a concessão de suas emissoras que, são renovadas a cada dez anos. Foi graças à habilidade de Fontenele, que havia acumulado a direção de Jornalismo e Comercial que, a Assunção cearense em 1972 renovou concessão, tendo em vista não permitir ao microfone, a participação de padres expressarem suas idéias por serem comunistas.

Fachada lateral do Estúdio na Av. Rui Barbosa.

A emissora funcionava 24 horas, e há zero hora começava um programa patrocinado por uma companhia aérea ainda existente, e que levava o seu nome como “a dona da Noite”, com uma belíssima seleção musical indo até as 5 da matina. Com o clarear do dia vinha “Alvorada Cabocla”, com violeiros e cantadores, um estilo ainda muito aceitado no sertão, na periferia de Fortaleza e, no coração de todos aqueles que ainda querem preservar a cultura nordestina.
Radialistas que passaram pela Assunção em seu primeiro biênio: Hermano Justa, Narcélio Sobreira Limaverde, Ivonete Maia, Ribamar Matos, Edvar de Souza, Nazareno Albuquerque, Ivan Lima, Luiz Cavalcante, Tarcisio Holanda, Oliveira Ramos, Mauricio Carvalho, Marciano Lopes, F. Capibaribe, Airton Monte, Silvio Leite, Júlio Sales, Mattos Dourado, . 
A equipe esportiva foi incrementada com a contratação de Gomes Farias que permaneceu na rádio de 1964 a 1967, quando retornou para a hoje saudosa Dragão do Mar.
A televisão na época era somente a TV Ceará canal 2, o que permitia a existência do rádio-teatro, que tinha no elenco Oliveira Filho, J. Oliveira, Dóris... Locutores Mattos Dourado, José Costa, Oséas Cruz, Peter Soares, Bonifácio de Almeida.... 
A Superintendência da Emissora até 1966 ficou a cargo do Padre Landim, quando foi nomeado o Padre Gerardo Campos, que muito lutou para manter a Assunção num patamar estável. Eram seus companheiros de equipe sacerdotal: Padres Gotardo Lemos e Mirton Bezerra de Lavor. Foram eles os responsáveis pela irradiação dos programas religiosos: “Oração por um dia Feliz”; “A Casa é de Todos”; “Movimento de Educação de Base – Escolas Radiofônicas”; “Missa do Pastor” e “Palavra do Pastor”.
Em 1969, o veterano José Cabral de Araújo recebeu e aceitou o convite de Dom José Medeiros Delgado para assumir a Superintendência da Assunção, em substituição ao Padre Gerardo Campos. Com o aval do Arcebispado, Cabral de Araujo apesar de paraplégico, tinha muita lucidez em suas decisões Houve assinatura e rescisão de contratos. Implantou em seis meses um novo modelo administrativo: o Arrendamento.
O primeiro arrendamento foi no setor esportivo com a volta da equipe de Gomes Farias, e a posterior contratação de Paulino Rocha. A partir de então a Assunção de quarta colocada passou a primeira, o que atraiu muitos anunciantes da Capital e do Interior.
1973 foi um ano de doçura para a Assunção quando pelo Ibope, confirmou primeiro lugar, porém a rádio Verdes Mares ofereceu a equipe esportiva uma proposta irrecusável, e assim se despediram da Assunção: Gomes Farias, Paulino Rocha, Bonifácio de Almeida, Souza Filho, Peter Soares, Moraes Filho, Daniel Campelo e de lambuja José Maria Sales o operador de áudio.
A emissora teve que buscar alternativas, e fora transformada em uma freqüência musical, enfatizando programas noticiosos, e voltar sua programação para os bairros, com sua unidade móvel de freqüência modulada, com locução de José Santana e o “Seu Repórter em Ação”.
Aos 4 de agosto de 1973, assumia a Igreja em Fortaleza, Dom Aluísio Lorscheider, com recepção transmitida diretamente do aeroporto Pinto Martins, pelo recém contratado José Lisboa, vindo de uma longa caminhada através da Rádio Iracema, e assim nasceria  a “Discoteca do Lisboa”. 
Em outubro do mesmo 1973, Cabral de Araujo se desvincula da emissora por problema de saúde, e definitivamente abandona o rádio. Geraldo Fontenelle assume a superintendência. Fontenelle em suas andanças deu uma passada na Empresa Cearense de Turismo – Emcetur, quando ouviu uma linda voz de uma mocinha que fazia os anúncios para permissionários e turistas, no local da antiga cadeia pública, no entorno da Praça da Estação. Tratava-se de Maria do Socorro Marques Viana, que de Iguatu havia chegado a Fortaleza em 1966. A mesma tinha um sonho, que era trabalhar em rádio, mas mesmo batendo nas portas não conseguia.
Geraldo Fontenelle a conduziu para os microfones da Assunção Cearense que ainda ficava na rua Visconde de Saboya, e assim começou a trabalhar no horário de 20 às 22 hs. A jovem Trabalhou por dois anos, indo para a Ceará Rádio Clube, e em seguida para a Dragão do Mar, quando em conversa com o diretor artístico da Dragão, José Elias vindo da Rádio Globo do Rio, sugestionou que Maria do Socorro deveria ser Samantha. Daí surgiu Samantha Marques.
Em 1976, Dom Aluisio Lorscheider foi eleito e proclamado Cardeal da Igreja Católica. Foram importantes solenidades e dias alternados: dia 24 e 29 de maio na sala de solenidades do Papa Paulo VI na Basílica de São Pedro. Geraldo Fontenele viajou para a Itália e durante a permanência de Dom Aluísio em Roma, diariamente as 12 e 18 horas havia transmissões. Com equipe própria, essas foram consideradas as primeiras transmissões internacionais de rádio no Brasil.
Por a emissora pertencer à igreja católica, ela teve por obrigação montar uma central de transmissão em seus estúdios (Rua Visconde de Sabóia), e com sua unidade móvel de FM, fazer toda a cobertura da visita do Papa João Paulo II à Fortaleza em Julho de 1980.
Em outubro de 1981, Dom Aluísio anunciou a venda da Rádio Assunção Cearense. O clero cearense não foi consultado, apenas o Conselho Arquidiocesano e membros da CNBB. Com a participação do Monsenhor André Camurça nas negociações, a rádio fora vendida em dezembro de 1981. Em súmula, a igreja católica ficou sem o Jornal O Nordeste, o Palácio São José (Do Bispo) e o Banco Popular.
O radialista Moésio Loyola, que ainda atua nos microfones com programas esportivos tornou-se proprietário da Emissora, mas por tradição deixou espaço para a programação religiosa.
Sei que vou pecar por omissão, mas quero deixar registrados alguns programas que marcaram época: O Esportivo com Paulino Rocha; Programa Oseias Cruz; Discoteca do Lisboa, com José Lisboa; Forrozão da Assunção com Carneiro Portela; Política com Fernando Maia; Recordação Saudade, E Os Anos Carregaram e Parada dos Maiorais com Wilson Machado. Nas tardes de sábado tinha um programa exclusivo de nostalgia e com musicas do passado não distante.
Sempre na freqüência de 620 kHz, Rádio Assunção Cearense já esteve com o estúdio instalado na Rua Irauçuba e hoje na esquina da Rua Bárbara de Alencar com Avenida Rui Barbosa na Aldeota. Conservando programação esportiva a emissora de freqüência mais baixa de Fortaleza, no ano 2000 arrendou seus horários à Comunidade Católica Shalom, contrato este que perduraria até 10 de maio de 2006. A mesma, sem programação definida até 10 de julho do mesmo 2006 tornou se afiliada da Rádio Globo do Rio de Janeiro até 15 de julho de 2012. A partir do dia 16 numa segunda feira, voltou novamente como Radio Assunção Cearense. A programação novamente enriqueceu a terra.
E o prédio da Visconde de Saboya entregue as intempéries? É passado, passou...