domingo, 14 de novembro de 2021

 

JACARECANGA E O BONDE


 

 

Jacarecanga como poucos bairros, teve o privilégio de emprestar seu solo para esse tipo de transporte ferroviário, começando o serviço já na tração elétrica.

A Companhia Ferro Carril que tinha um prédio administrativo na Praça do Ferreira, foi inaugurada ao 24 de abril de 1880 com 4.210 metros de linhas para bondes de tração animal, cujo contrato para assentamento dos trilhos, remota ao mês de agosto de 1875.

O ponto zero era na Praça do Ferreira de onde partia todos os bondes, sendo os primeiros para a Estrada de Messejana (Visconde Rio Branco) e o Matadouro Público (Hoje Bairro Farias Brito), próximo onde funcionou a desaparecida Estação ferroviária de Otávio Bonfim, na Estrada do Barro Vermelho (Avenida Bezerra de Menezes).

A história dos bondes tanto tração animal, como a elétrica é extensa, por isso quero me deter ao Bonde do Jacarecanga, salientando apenas que aos 8 de maio de 1911, havia sido criado a usina de força e luz do Passeio Público, da Firma Ceará Tamway Light & Company, para alimentar a tração elétrica dos bondes, erradicando os de tração animal.

Assim eram onze linhas, mas apenas duas serviam ao bairro: Soares Moreno e o de Jacarecanga. O de Soares Moreno tinha o seguinte trajeto: Praça do Ferreira → Rua Guilherme Rocha → Rua Tereza Cristina → Rua Castro e Silva → Padre Mororó fazendo ponto final na esquina da Rua Francisco Lorda, na época Tijubana. O de Jacarecanga fazia o mesmo percurso do SM, com o seguinte aditivo: Praça Fernandes Vieira (Atual Gustavo Barroso), fazendo o contorno até levarem os alunos na porta do Colégio Liceu; depois já no início dos anos de 1940, o General Cordeiro Neto, o Acrísio Moreira da Rocha e o Industrial Pedro Philomeno, usaram seus prestígios e conseguiram com a direção da Light para que, a linha do bonde Jacarecanga fosse até defronte à fábrica de tecidos São José, beirando a linha do trem da RVC. 

Eu ainda alcancei a abandonada casinha de força e uns velhos cabos elétricos caídos, e cortados num poste de ferro, no canto Noroeste do Cemitério São João Batista. Esse eram um dos últimos detalhes que provava a existência de que, Jacarecanga teve bondes. Foram destruídos em 1969.

 

Os moradores antigos e os que moravam na VSJ nos anos 60/70 ainda se lembram, que os ônibus do empresário Oscar pedreira quando vinham do Centro, contornavam a Praça do Liceu, e ficavam em tangente para entrar na Avenida Philomeno Gomes, só dependendo dos semáforos instalados em 1965. Eu acho que eles seguiam a sombra dos bondes elétricos que transportaram nossos ancestrais, de 1913 até 1947, quando desapareceram de vez.

Não ficou um só exemplar para a posteriori, nem mesmo trilhos para contar a história, daí minha lamentação pelo desaparecimento da Casinha de Força, que nenhum mal fazia, apenas confirmava a história. Dentro do terreno de Cemitério, quem iria se incomodar, eita falta de visão histórica – cultural.

Meu pai Valdemar de Lima, morando na Vila ainda fez uso do bonde para o Centro, e foi esse fragmento por ele contado, que aqui descrevi.